Filipe Neves é Responsável de Marca e Embaixador Global para a Casa Ferreirinha.

De passagem pelo Brasil, em um evento da importadora Zahil, concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando da tradição da Casa Ferreirinha, do vinhos do Douro e do mítico Barca Velha, confira:

Filipe da Mota Neves
Filipe da Mota Neves

Casa Ferreirinha é uma das mais tracionais vinícolas do Douro, fale um pouco de sua história.

Casa Ferreirinha e sua história estão conectadas com a história da própria região do Douro.

Foi uma casa que começou no século XVIII, em 1751, em uma época que todas as casas produziam Vinho do Porto.

Casa Ferreirinha nasceu de uma família de lavradores da região, para produzir vinhos com um diferencial, vinhos feitos para a nossa gastronomia, para serem consumir à mesa.

Vinhos com frescor, com elegância, mais frutados e menos doces.

Foi uma casa que logo se destacou, não só pelo estilo e pela qualidade dos vinhos, mas também por ser uma das primeiras casas a manter estoques significativos de vinhos velhos para complementar os vinhos da safra.

Além disso, Casa Ferreirinha também se destacou pelo que fez pela região do Douro.

A família sempre esteve muito ligada à filantropia, ajudando as pessoas da região.

Pois, ao contrário das grandes casas exportadoras, era uma família que já vivia na região e sofria com o afastamento do Douro das grandes cidades.

Douro
Douro

É impossível falar da Casa Ferreirinha e não mencionar a Dona Antónia, como seu empreendedorismo e valores influenciam a vinícola ainda hoje?

Dona Antónia, mais do que uma figura ligada ao Douro, foi uma pessoa ligada ao desenvolvimento do negócio do Vinho do Porto e dos Vinhos de Mesa do Douro.

Mas acima de tudo, ligada às pessoas da região do Douro.

Ela nasceu em 1811, uma época difícil, em anos muito conturbados.

Casou com um primo direto, algo que acontecia na época.

E após a morte do seu marido, ainda muito jovem, foi lançada ao comando de uma empresa que já era grande na região.

Todos pensavam que ela ia desistir, que não ia agarrar a liderança da empresa, mas ela fez o contrário.

Ela não só agarrou a liderança da empresa, como também a melhorou.

Implantou uma quantidade incrível de vinhas para a época, que abrangia vinte das melhores Quintas que ainda existem na região do Douro.

Dona Antónia não foi só uma empreendedora, mas uma pessoa que ajudou as pessoas do Douro.

O Douro, nessa época, estava demasiando longe dos centros de decisão.

Coisas muito básicas, como escolas e hospitais, faziam falta.

Hoje em dia, uma parte do Hospital da Régua, foi construída no seu tempo, assim como escolas e estradas na região.

A Dona Antónia tinha uma grande paixão em ajudar os mais pobres.

Cerca de duzentas famílias eram auxiliadas por ela na época de sua morte.

Dona Antónia Ferreirinha
Dona Antónia Ferreirinha

O Douro é mais antiga região vitivinícola regulamentada do mundo, como é trabalhar com essa tradição?

Essa é uma excelente pergunta, um motivo de controvérsia e, ao mesmo tempo, orgulho.

Existem regras que, em 1756, quando a região foi demarcada, regulamentada e delimitada, faziam sentido.

E que hoje em dia com a evolução da tecnologia, do clima, já não fazem.

Questões como o espaçamento, a alturas das vinhas e, sobretudo, a irrigação da região do Douro.

Mas a realidade é que nós continuamos a viver com essas regras, que garantem produções muito mais baixas, melhor qualidade e maior complexidade dos vinhos.

O futuro dirá o que irá acontecer com essas regras. I

magino que poderá haver alterações em um futuro mais próximo ou mais longínquo.

Mas a realidade é que hoje em dia elas ainda funcionam.

A irrigação continua a ser proibida.

Continua a ser estritamente cumprida essa regra pelos produtores e é algo que melhora a qualidade média dos vinhos da região do Douro.

Barca Velha é o vinho mais emblemático do Douro, qual o seu segredo?

O segredo tem a ver com dois pontos essencialmente.

Falamos de um vinho que é feito com uma matéria-prima que tem um cuidado extremo.

Todos os anos temos o objetivo de fazer o Barca Velha.

Temos um cuidado extremo na vinha. Uma vinha absolutamente afinada para produzir a melhor qualidade de uva em produções muito baixas.

Um cuidado de videira em videira. Ramo a ramo da videira.

Mas nem todos os anos atingimos aquilo que é a excelência.

Esse é um dos pontos, o não compromisso com a produção.

Contamos com a técnica para produzir vinhos de excelente qualidade todos os anos.

Mas um dos segredos do Barca Velha é só lança-lo quando efetivamente tenhamos vinhos extraordinários.

Esse é um alvo em movimento.

Um exemplo disso são as últimas safras do Barca Velha Reserva Especial.

Temos safras do Barca Velha, como a 2008, que atingiu 100 pontos, a pontuação perfeita. Safras de Reserva Especial que chegam a mais de 96 pontos.

O segundo ponto tem a ver com um histórico, um passado, que vem desde 1952, com um visionário, que era o senhor Fernando Nicolau de Almeida e que tinha o sonho de fazer um vinho com um determinado estilo, filosofia e potencial de envelhecimento.

Fernando Nicolau de Almeida
Fernando Nicolau de Almeida

Essa filosofia foi passada de geração de enólogos em geração de enólogos.

Estamos, hoje, na terceira geração, com Luís Sottomayor, que trabalhou por alguns anos ainda com o primeiro enólogo da Casa Ferreirinha.

Essa continuidade, essa passagem de um testemunho, como se fosse quase de pai para filho, é essencial para um vinho com a exclusividade e qualidade do Barca Velha.

Luís Sottomayor
Luís Sottomayor

Papa Figos é uma linha bastante popular da Casa Ferreirinha, fale um pouco dessa linha.

Papa Figos é um vinho que me diz muito, pois estou na casa desde a época do seu lançamento.

Entrei na Casa Ferreirinha em 2009 e a primeira safra saiu em 2011 com a safra 2010.

Foi uma grande mudança para uma casa tão tradicional.

Um vinho com um pássaro migratório no rótulo, que vem do norte da África para comer os figos no Douro.

E que representa boa sorte, pois quando aparecia na vinha era um sinal que as uvas estavam muito maduras e muito doces.

Mas na realidade a história é bem mais simples.

Não é uma ideia nascida do marketing, é a indicação de maturidade de uma vinha.

Como a Quinta da Leda, que já tinha mais de trinta anos de existência e a capacidade de produzir mais do que apenas para Vinha Grande, Callabriga, Quinta da Leda e o Douro Especial, que é o Barca Velha Reserva Especial.

Com essa base decidimos fazer um vinho novo, que estivesse disponível para todos.

Em 2011 os vinhos do Douro Superior eram sinônimos de preços altos, vinhos de produção baixa, muito encorpados e que estavam disponíveis apenas a preços altíssimos.

Nós decidimos democratizar um pouco o Douro Superior. E o Papa Figos foi esse vinho.

Começamos a utilizar uvas da Quinta da Leda, Touriga Nacional e Touriga Franca de altitudes baixas.

E fomos buscar em altitudes mais elevadas, tal como é feito com Barca Velha, uvas Tinta Roriz, Tinto Cão e Tinta Barroca, trazendo um pouco mais de elegância, um pouco mais de frescor, fazendo um vinho que lidasse bem tanto com a alta gastronomia, quanto com o dia a dia.

E esse foi o grande segredo do Papa Figos, termos um vinho com a qualidade de uma região magnífica com um preço acessível.

Quinta da Leda
Quinta da Leda

Quinta da Leda e Callabriga representam uma renovação dos valores do Douro, fale um pouco desses rótulos.

As primeiras safras de Callabriga (1995) e Quinta da Leda (1997) foram projetos voltados a um consumidor que não queria ir até o Barca Velha, mas não estava contente com o nível Vinha Grande, queria um pouco mais.

Callabriga inovou sendo o primeiro vinho da Casa Ferreirinha a usar carvalho americano, que traz aromas de baunilha, cacau e mentol.

Foi um vinho que desfrutou de um sucesso imediato.

Durante muitos anos não saiu de Portugal inclusive, pois a produção não dava conta.

Callabriga abriu as portas para um Douro Superior de vinhos mais densos, encorpados, mas em uma versão que era possível apreciar sem um grande compromisso.

Quinta da Leda veio a seguir, com uvas 100% oriundas da Quinta da Leda, de baixa altitude, Touriga Nacional e Touriga Franca.

É um vinho que segue o corte do Barca Velha.

Só que o Barca Velha nunca foi só Quinta da Leda ou uma só Quinta, tem sempre um grande componente de altitude, trazendo frescor e elegância.

Um vinho de autor, não um vinho de vinha, que reflete um pensamento intencional em fazer um vinho com determinada característica.

Quinta da Leda segue esse estilo, apesar de ser um vinho que procura sempre frescor e elegância, é um vinho que reflete cada ano que passa. Reflete os anos mais quentes, os anos mais frios.

Muda bastante e reflete a vinha naquele ano.

É um vinho absolutamente magnífico, que tem conquistado pontuações que nos orgulham muito. 95 pontos de Robert Parker, por exemplo, para um vinho que ainda tem um preço bastante em conta.

Digo muitas vezes, se não tivéssemos o Barca Velha nem o Reserva Especial eu não teria problema nenhum em mostrar o Quinta da Leda como nosso grande vinho do Douro.

Existe uma nova geração de jovens que estão descobrindo os prazeres dos vinhos, como é atender esse público?

Nós temos uma responsabilidade quando se fala em Casa Ferreirinha.

Fala-se em tradição, em valores de família. Fala-se de uma casa com história de mais de 250 anos.

Mas na base da Casa Ferreirinha está uma inovação absolutamente incrível, que foi a criação dos primeiros Vinhos Secos da região do Douro.

Uma casa que tem um passado, um DNA, de inovação.

Dizendo isso, inovamos, mas não tanto. Fazemos vinhos tradicionais, com uma filosofia.

Tentamos ter vinhos para servir todos os públicos.

Hoje, nossa adaptação é mais a comunicação, não falando de grandes publicidades, de grande anúncios na televisão, nem nada assim.

Mas de comunicação um a um. Contar a história, falar dos vinhos, explicá-los, explicar as combinações gastronômicas.

Passar um pouco daquilo que é a nossa cultura para os jovens.

Ainda hoje, nós temos um consumo bastante elevado de vinhos em Portugal.

São mais de sessenta e dois litros por pessoa por ano.

Mas o que eu digo àqueles que pensam que isso é um problema.

Não, nós não bebemos essas garrafas todas as sextas-feiras à noite, nós bebemos essas garrafas taça a taça, dia após dia, sempre com comida.

Essa é nossa cultura, os vinhos da Casa Ferreirinha refletem um consumo responsável.

Vinhos feitos com cuidado e que inevitavelmente vão acabar por servir os propósitos do consumidor mais jovem, mais cedo ou mais tarde.

Adega Quinta da Leda
Adega Quinta da Leda

Quais rótulos Casa Ferreirinha você recomenda para os brasileiros?

Nós temos rótulos para todo tipo de consumidor, são vinhos sempre nessa filosofia de combinações gastronômicas, muito elegantes.

São vinhos fáceis, mas não são vinhos comerciais. São vinhos tradicionais do Velho Mundo.

Os brasileiros gostam de vinhos redondos, vinhos elegantes, com alguma intensidade aromática.

Tenho visto, com bom grado, que os vinhos, desde a entrada da gama até o topo, que são muito bem conhecidos em Portugal, são também são líderes no mercado no Brasil.

Mas o que eu vejo com predileção, são os vinhos com um pouco mais de intensidade aromática, mais estrutura e que refletem o Douro Superior.

Papa Figos tem uma saída enorme aqui no Brasil, tanto o Tinto, quanto o Branco.

A partir daí, Vinha Grande é um vinho mais clássico, mas que também tem uma aceitação grande, até porque é um vinho que aqueles que têm adegas em casa gostam muito de guardar

O Callabriga, conhecido como “cala briga”, é um vinho muito bom, com uma relação custo-benefício absolutamente incrível e que faz uma grande sucesso.

Um vinho com que podemos entrar na categoria premium.


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