Pedro Lobo, da Quinta do Vale Meão, esteve no Brasil, no mês de maio, para um evento da Importadora Mistral.

Ele concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando da tradição dos vinhos do Douro e do Vinho do Porto, confira:

Pedro Lobo
Pedro Lobo

A Quinta do Vale Meão é considerada por muitos como a melhor expressão dos vinhos portugueses, conte um pouco da trajetória recente da vinícola.

A Quinta do Vale Meão é uma quinta com muita história.

Foi a última quinta comprada pela famosa Dona Antônia Ferreirinha e a única que ela construiu desde as raízes com tudo que ela havia aprendido em sua vida nas muitas quintas que ela possuía no Douro.

De fato, a história da Quinta do Vale Meão mais recente foi a criação de um dos grandes vinhos do Douro nos anos cinquenta pelo avô do nosso atual enólogo, o engenheiro Francisco Olazabal e que posteriormente, desde 1999, ficou na posse da família Olazabal.

O pai, Vito Olazabal, o filho, Francisco Olazabal, juntamente com os dois outros filhos, Luisa e Jaime.

Tem sido, de fato, uma trajetória muito interessante.

Combinando a história do Vale Meão com a consistência da qualidade de seus vinhos, permitiu que nós atingíssemos patamares de excelência nos principais mercados mundiais.

O Brasil é um desses mercados onde o Vale do Meão é considerado um vinho de excelência.

Francisco Xito Olazabal
Francisco Xito Olazabal

A filosofia da Quinta do Vale Meão é combinar um método tradicional de vinificação com modernas tecnologias, quais sãos os desafios dessa harmonização?

É muito importante aproveitar o terroir e todo o potencial da quinta, mas seria uma decisão pouco sensata não aproveitar toda a tecnologia disponível.

Em especial em uma região quente como o Douro as tecnologias como o controle de temperatura.

Essa nova geração de enólogos, como o engenheiro Francisco Olazabal, voltou atrás em algumas tecnologias, voltando a utilizar a pisa a pé, por exemplo.

Combinando-as com novas tecnologias que permitem que a cada ano tenhamos um bom vinho.

Usando a tecnologia para nos ajudar a manter a qualidade é a melhor alternativa.

Esta harmonização não é necessariamente difícil, pelo contrário, é um caminho lógico, com um objetivo final de sempre ter qualidade e estabilidade a cada ano.

O Douro ganhou o título de patrimônio da humanidade, como é trabalhar como uma Denominação de Origem Controlada?

É uma grande responsabilidade trabalhar no Douro, pois é uma região mágica e única no mundo.

É a melhor região de viticultura de montanha no mundo e tem uma beleza impactante.

É uma responsabilidade nossa, além de fazer bons vinhos, ter um impacto positivo em todo o setor vitivinícola, respeitando desde os produtores que fornecem as uvas até a própria paisagem.

Um exemplo, em 2012 quando aumentamos a nossa adega, o proprietário Vito Olazabal teve o cuidado de buscar granito com o mesmo estilo e da mesma cor do granito original da quinta, para que o impacto visual fosse menor e mais suave.

É uma honra trabalhar nesta região, mas também é uma grande responsabilidade.

Vemos o vinho como um tesouro para ser passado para as próximas gerações.

Temos a obrigação de criar uma harmonia com a natureza em nosso processo de produção dos vinhos.

Quinta do Vale Meão
Quinta do Vale Meão

A Quinta do Vale Meão proporciona três solos de características distintas, como os terroirs influenciam na elaboração dos vinhos?

Essa é uma excelente pergunta, pois é uma das coisas que distingue a Quinta do Vale Meão de outros locais.

O Douro é fundamentalmente constituído por solos xistosos, que são importantes por sua capacidade de reter a água.

A Quinta do Vale Meão tem uma particularidade, pois é atravessada pela falha geológica da da Vilariça que faz com que no meio da montanha de granito surja xisto e tenhamos uma parte de solo aluvial.

Ou seja, pedras que faziam parte do leito de um antigo rio.

Estes três solos permitem jogar com as diferentes variedades, as diferentes castas e produzir vinhos de estilos diferentes.

Enquanto o xisto e o solo aluvial produzem vinhos com mais profundidade, com mais estrutura, vinhos mais típicos do Douro.

O solo de granito permite produzir vinhos com mais frescura e maior mineralidade.

Acreditamos que esse é um dos segredos da Quinta do Vale Meão, pois estando em uma região tão quente conseguimos produzir vinhos frescos e gastronômicos.

Vinhos que a indústria não imagina que venham de uma região tão quente, pois conseguem manter uma frescura tão interessante.

O Quinta do Vale Meão é produzido com os vinhedos do mítico Barca Velha, fale um pouco dessa tradição.

É verdade, o Quinta do Vale Meão tem um estilo diferente do famoso vinho frio do Vale do Douro.

Esse vinho foi criado nos anos cinquenta, não apenas com uvas da Quinta do Vale Meão, mas também com uvas de alta altitude, para fazer um vinho mais ao estilo de Bordeaux.

Quando o engenheiro Francisco Olazabal em 1999 toma conta da quinta decidimos fazer um vinho em um estilo que era nosso próprio estilo.

Um estilo Douro e não um estilo Bordeaux.

Como já mencionamos anteriormente, com a utilização de novas tecnologias, mas fazendo um vinho que reflete o nosso terroir.

Embora a história influencie e nos ajude, desde 1999 os nossos vinhos têm um estilo próprio, estilo esse que respeita o terroir da Quinta do Vale Meão.

Adega Quinta do Vale Meão
Adega Quinta do Vale Meão

Quando falamos em rótulos portugueses já vem à mente os Vinhos do Porto, fale um do Porto Vintage.

O Porto Vintage é muito especial, nós costumamos dizer em tom de brincadeira que o enólogo faz o vinho do Douro, mas é Deus quem faz o Vinho do Porto Vintage.

Para produzir o Vinho do Porto Vintage são necessários vinhedos com uma concentração que se possa fazer vinhos com uma capacidade de durar cinquenta, sessenta, setenta anos na garrafa.

Não é todos os anos que a natureza proporciona esse tipo de vinho.

Nós, na Quinta do Vale Meão, temos a sorte de contar com clima bastante estável, em que quase todos os anos conseguimos fazer uma pequena quantidade de Vinho do Porto Vintage.

Mas logicamente temos aqueles anos que são chamados de anos clássicos, que é o caso de 2017, que será o nosso próximo lançamento.

O Vinho do Porto Vintage é um vinho jovem, que é engarrafado ao final de dois anos e não é filtrado, com o objetivo de envelhecer na garrafa.

Costumo dizer que não é um vinho para tomar com nossos filhos, mas para tomar com nossos netos.

É algo que nós prezamos na Quinta do Vale Meão, temos muito prazer e muita honra em produzir Vinho do Porto Vintage.

Os tintos da Quinta do Vale Meão foram considerados como os melhores de Portugal pela Revista de Vinhos, além de ganharem uma ótima pontuação pela revista Wine Spectator, como é ter esse reconhecimento?

Eu costumo dizer que nós não trabalhamos para o reconhecimento dos outros.

Mas é de fato uma honra ser considerado como um dos melhores vinhos portugueses e entre os melhores vinhos do mundo para revistas de referência, como as mencionadas e também a Wine Enthusiast, Robert Parker, entre outras.

É uma grande honra e é algo que nos ajuda a tentar a cada ano fazer melhor.

Na Quinta do Vale Meão nosso foco é a qualidade e quando vemos essa qualidade reconhecida no mercado é algo que nos ajuda a criar uma grande marca.

O mais importante não é ter uma ou duas notas muito boas, mas ter uma constância de qualidade ano após ano.

Vinhedos Quinta do Vale Meão
Vinhedos Quinta do Vale Meão

Quais rótulos da Quinta do Vale Meão você recomenda para os brasileiros?

A Quinta do Vale Meão é uma empresa com poucos rótulos.

Recomendo primeiramente o Meandro do Vale Meão, o nome desse vinho surge porque estamos no meandro do rio, ou seja, o rio faz a volta na montanha.

O Meandro Branco é um vinho muito gastronômico, feito com Rabigato e Arinto.

Já o Meandro Tinto é o vinho que temos um pouco mais de quantidade, um vinho que envelhece muito bem e que recomendo para começar.

Depois temos uma linha de varietais, um Banga plantado em granito, um tinto Aragonez plantado em solo aluvial e um Touriga Nacional plantado em solo de granito.

São vinhos muito interessantes para a gastronomia e para quem busca algo diferente.

Para quem tiver uma carteira um pouco mais recheada e uma ocasião especial, recomento o Quinta do Vale Meão.

Um vinho clássico, com uma grande capacidade de guarda, que pode envelhecer até vinte anos sem qualquer problema.

Para finalizar recomendo um dos nossos Vinhos do Porto, o Vinho do Porto Reserva e o Olazabal Reserva.

E, finalmente, o nosso Vinho do Porto Vintage, que recomendo para ocasiões especiais, com um bom chocolate, um bom queijo.


Você encontra os melhores vinhos da Quinta do Vale Meão na DiVinho! E você, já provou os rótulos da vinícola?