Esta inóspita região no norte da França é o endereço dos espumantes mais divinos e desejados de todo o mundo: o irrepetível champagne.
Conta-se que o borbulhante champagne nasceu por acaso, no final do século XVII, tendo como inventor Dom Pérignon.
Sediado na abadia de Hautvillers, na qual havia um vinhedo de 25 hectares, o monge era admirado na época por produzir ótimos vinhos brancos.
Certa vez, algo “deu errado”: surgiram borbulhas na garrafa – o vinho havia refermentado.
Dom Pérignon teria tentado, de todas as formas, resolver o “defeito”, até perceber que o resultado, na verdade, era muito bom. Astuto, ele desenvolveu uma maneira de conter a pressão das bolhas na garrafa, amarrando a rolha com arame.
Hoje, sua célebre frase é propagada sempre quando o assunto é champagne: “Venham ver! Venham ver! Estou bebendo estrelas!”
Outros personagens eternizados em marcas de champagne – o caso de Barbe Nicole Clicquot Ponsardin, a Veuve Clicquot – contribuíram, ao longo dos séculos, para aperfeiçoar a técnica de elaboração de champagne, que é copiada em todo o mundo com a indicação de “método tradicional” ou método “clássico”.
Consiste na indução de uma segunda fermentação do vinho, depois de realizada a assemblage, na garrafa, graças à adição de um licor de tiragem – uma mistura de vinho base, leveduras e açúcar.
Essa referementação é bem lenta, acontece nas frias caves de Champagne e demora de dois a três meses para ser finalizada.
Em seguida, o vinho permanece um bom tempo (anos ou até décadas!) em contato com as borras das leveduras mortas para ganhar complexidade.
O sedimento é removido de uma maneira também engenhosa: girando-se as garrafas cuidadosamente, em suportes manuais ou automáticos, até ficarem de cabeça para baixo e o depósito se acumular no gargalo.
Assim, ele pode ser retirado por meio do dégorgement (degola). Congela-se esta parte e a borra é facilmente expelida.
Para completar o conteúdo da garrafa, os produtores adicionam o chamado licor de expedição – feito de açúcar e destilado de vinho.
É esse licor que determina o grau de doçura do champagne final (Nature/Brut Nature/Pas-dosage, Extra Brut, Brut, Extra Sec, Sec, Demi-Sec, Doux).
O resultado é um espumante sofisticado – eleito por quem quer realizar comemorações em alto estilo e pode pagar por isso, pois o champagne é, geralmente, bem mais caro do que seus similares de outras fronteiras.
Os vinhedos em zonas privilegiadas, o modo muito peculiar de elaboração – quase artesanal – e as quantidades limitadas explicam os altos preços.
Champagne fica 145 quilômetros a nordeste de Paris é uma das mais setentrionais regiões vitivinícolas da França – isso significa que o clima ali é frio, o que é um pré-requisito para a elaboração de vinhos espumantes, pois garante-se boa acidez.
Outra de suas características “mágicas” é o solo arenoso “inundado” de um calcário especial, formado de fósseis marinhos da herdados da época que a região era coberta por mar.
Champagne ainda abriga quilômetros e quilômetros de galerias subterrâneas cavadas na rocha, nas quais a temperatura é fria e praticamente constante, o que faz delas um ambiente propício para o armazenamento dos vinhos.
A região também tem seus “oásis”, que são as povoações classificadas como grand cru. Há dezessete, sendo as mais emblemáticas: Aÿ, Bouzy e Sillery para o cultivo das cepas tintas; Avize, Cramant e Le Mesnil para a Chardonnay.
Já em relação às variedades de uvas, o trio Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier é predominante.
Embora a denominação de origem permita outras uvas – Arbane, Petit Meslier, Pinot Blanc e Pinot Gris – são aquelas três, de longe, as preferidas.
A Chardonnay confere finesse ao corte final; a Pinot Noir, corpo e estrutura; já a Pinot Meunier reforça o caráter frutado.